segunda-feira, 23 de abril de 2007

As boas notícias são que já somos mais de três milhões a ler

Fonte: Público
Data: 23-04-2007
Autor: Inês Nadais


Durante anos ficámos mal, muito mal, na fotografia. Agora é diferente: 37 por cento dos portugueses aparecem a ler. Só falta saber o quê

Isabel Alçada, comissária do Plano Nacional de Leitura, congratula-se com os números mas diz que quer ir mais longe. É um pequeno passo para um país civilizado, mas é um passo gigantesco para um país que há ainda seis anos tinha nove por cento de analfabetos (e que passou mais de metade do século XX a ser um anacronismo, um mundo à parte num fuso horário à parte da restante Europa ocidental): segundo os dados do estudo Consumidor 2006, que a Marktest divulgou a meio da semana passada, já são mais de três milhões os portugueses que lêem livros (ou, mais exactamente, que leram um livro no mês anterior ao telefonema da Marktest).

Ler continua a ser um comportamento minoritário, uma coisa que acontece a menos de metade da população continental com mais de 15 anos - mas cada vez menos, e isto merece palmas (a pretexto, também, desta efeméride: hoje é o Dia Mundial do Livro e finalmente os portugueses parecem saber o que isso é, e não apenas de vista).

Isabel Alçada, a comissária do Plano Nacional de Leitura, tem o estudo em cima da mesa quando lhe telefonamos (mas vai ter outro, mais extensivo, daqui a uns meses). "É indispensável sabermos qual é a tendência - e é muito bom saber que há uma tendência positiva, que há muitas pessoas que adquiriram hábitos de leitura nos últimos dez anos, e sobretudo saber que idade têm, onde vivem, que profissão exercem", diz.

O estudo da Marktest chega a esse ponto: ao ponto de nos dizer que as pessoas que lêem livros vivem sobretudo na Grande Lisboa e no Grande Porto (regiões onde, respectivamente, 49,2 por cento e 50,2 por cento dos habitantes têm esse hábito), são do sexo feminino (40,7 por cento de leitoras contra 33,1 por cento de leitores), correspondem a quadros médios e superiores (classe em que 73,7 por cento dos inquiridos afirmam ler, ao contrário das domésticas, dos trabalhadores não-qualificados e dos reformados) e pertencem às classes alta e média alta (68,2 por cento de leitores contra apenas 20,5 por cento na classe mais baixa).

Mais livros, mais economia

Não chega, diz Isabel Alçada: "Estes dados são necessários, mas não são suficientes; temos de ir mais longe". E vamos: o Plano Nacional de Leitura encomendou dois estudos (sobre os hábitos da população em geral, a cargo do Observatório das Actividades Culturais, e sobre os hábitos da população escolar, a cargo do Centro de Sondagens da Universidade Católica) e espera ter resultados no Verão.

"Queremos saber como o panorama evoluiu desde o último grande estudo, que tem dez anos. E queremos saber como estão os outros países, nomeadamente na União Europeia e na OCDE, porque são os países onde mais se lê que têm os indicadores de desenvolvimento económico mais significativos. No Reino Unido, por exemplo, um inquérito da BBC feito no ano passado revelou que 79 por cento dos britânicos consideram a leitura uma actividade essencial e que só 17 por cento não gostam de ler. E outro mostra que 23 por cento dos locais de trabalho disponibilizam o empréstimo de livros ou mesmo clubes de leitura. Mais de 80 por cento dos trabalhadores ingleses trocam livros com os colegas de trabalho e cerca de 65 por cento lêem à hora do almoço", sublinha a comissária.

Devemos estar muito longe disso, mas não temos a certeza. O inquérito A Leitura em Portugal que o Observatório das Actividades Culturais está a coordenar poderá ajudar a cartografar melhor a actual tendência para o aumento do número de leitores: embora a amostra seja menos significativa do que a da Marktest (2552 indivíduos, contra os 4248 que compõem o universo Consumidor 2006, também com 15 e mais anos e só em Portugal continental), as dimensões de análise permitirão conhecer muito mais profundamente quem lê - e o que lê quem lê.

"O inquérito que temos em curso retoma um estudo publicado em 1997 e procura interrogar os antecedentes da prática da leitura, a prática de leitura do inquirido na actualidade, a posse e a compra de livros e outras práticas culturais do inquirido", explica José Soares Neves, responsável executivo do projecto.

Tendência positiva

Comparar os dados obtidos agora com os de 1997 vai ser complicado, "porque muita coisa mudou ao longo destes dez anos na sociedade portuguesa". Mas, face aos valores de referência desse inquérito - que considerava leitores todos os inquiridos que tivessem lido livros nos últimos 12 meses -, espera-se "uma evolução positiva".

"Em 1997, 12 por cento dos inquiridos diziam-se não-leitores, ou seja, não tinham lido um único livro no ano anterior ao inquérito. Imaginamos que essa proporção tenha diminuído. Mas a que ponto? Alterou-se a proporção dos portugueses com acesso à leitura? E alteraram-se as características dessa população? É possível que sim. Há aspectos novos que este estudo pode apanhar: as novas tecnologias, por exemplo, que em 1997 ainda eram realidades emergentes", nota.

O que quer que tenhamos feito, frisa Isabel Alçada, fizemos em menos anos do que os países do Norte da Europa: "Nós começámos a fazer este esforço de promoção da leitura há 20 anos. Eles andam nisto há 100". Talvez leiam best-sellers da Joan Collins ou do Paulo Coelho quando vêm de férias ao Algarve, mas lêem: "O importante é ler. É claro que ler obras de mais envergadura indica que a literacia atingiu níveis mais robustos. Em Portugal também não sabemos exactamente o que as pessoas estão a ler. Os tops de vendas das livrarias não dispensam um trabalho científico e não temos propriamente boas estatísticas de edição e de tiragens".

A boa notícia do estudo que a Marktest divulgou na semana passada é que, em relação a 1996, a proporção de leitores em Portugal aumentou 58 por cento: há dez anos, só 23,5 por cento dos inquiridos disseram que sim quando lhes perguntaram se tinham lido algum livro no mês anterior. Por este andar, talvez em 2037 as nossas estatísticas sejam como as da BBC.

sábado, 7 de abril de 2007

Uma atitude que não é parvoíce

Há coisas que se proporcionam pelo facto de vivermos numa democracia que nos parecem completamente disparatadas, nomeadamente a possibilidade de utilizarmos essa democracia para promovermos formas de estar na sociedade muito pouco democráticas...

Os Gato Fedorento tomaram uma atitude, a todos os níveis louvável, de se manifestarem contra a atitude do PNR relativamente à Imigração e aos estrangeiros em Portugal. Independentemente da legitimidade ou não da permanência de muitos dos estrangeiros em Portugal, estes são, hoje em dia, sem dúvida nenhum, peças importantes na nossa economia. Para além de tudo isso, Portugal sempre foi um país de emigrantes - nem sempre bem recebidos nos seus países de destino, mas enfim - conhecemos bem as realidades que ditam a necessidade de emigrar, pelo que devemos reconhecer aos imigrantes que nos procuram o direito de irem à procura de uma vida melhor. Precisamos de gente empreendedora para que este país se desenvolva efectivamente... parece-me que, de facto [só] "Com Portugueses não vamos lá...".

Pena que a CML tenha obrigado os Gato Fedorento a tirar o cartaz, mas se não tinha autorização... não tinha e pronto - tinha que ser retirado... mas é pena. Temos que dar às atitudes de grupos como o PNR respostas à altura, "sérias" :-D como a dos Gato Fedorento, e não as intelectuais como as de alguma Comunicação Social, dando a relevância adequada às parvoíces públicas de alguns...

Esta atitude de um grupo de cidadãos é, definitivamente, uma boa notícia.

Cientista português recebe prémio milionário

Lemos um jornal inteiro e temos dificuldade em encontrar uma notícia que mereça ser destacada pela positiva... Esta pareceu-me razoavelmente boa para uma sexta-feira santa.

No final da leitura da notícia, ficamos sem entender muito bem sobre o que o nosso premiado investiga... temos a noção que o que está para vir pode ser uma coisa importante, mas não sabemos exactamente para quê - esperemos que não sejam apenas os artigos académicos.

No entanto, não deixa de ser o reconhecimento de uma equipa de investigação portuguesa, ilustrando que, de facto, se vão fazendo algumas coisas como deve ser no nosso país.

Diário de Notícias, 6 de Abril de 2007

"Especialista em genética, líder de um grupo de investigação no Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Lisboa, António Jacinto ganhou um dos prémios científicos mais importantes (e um dos maiores) a nível internacional: o Human Frontier Science Program Award, o que quer dizer um milhão de dólares (cerca de 700 mil euros)."