Público.pt, 2009-10-25, por Lusa
Dezenas de crianças já passaram pela Biblioteca de Vila Real para ajudarem a limpar e a salvar livros antigos, uma iniciativa lançada há um ano com o objectivo de sensibilizar os mais pequenos para a conservação do fundo bibliográfico.
Dani, dez anos, pegou na trincha e com uma delicadeza invulgar numa criança limpou uma das páginas do livro “Sermões do Padre Diogo Curado”, já com mais de 300 anos, proveniente do Convento de São Francisco. “Temos que limpar sempre de baixo para cima, para não mandarmos o pó para cima de nós, e este trabalho tem que ser feito com muita calma e paciência”, explicou Elsa Nóbrega, técnica de arquivo da Biblioteca Municipal de Vila Real.
Dani acatou todas as ordens. Primeiro colocou as luvas e a máscara, por causa das poeiras e microrganismos escondidas entre as 597 páginas do livro antigo, depois passou várias vezes a trincha, sempre de baixo para cima, e no final fez questão de ajudar a colocar a capa de plástico que passará a envolver e a proteger a publicação. “Não sabia que podiam existir tantos bichos dentro dos livros como as traças, os piolhos dos livros ou as térmitas. Ensinaram-nos isso antes de começarmos a limpar,” referiu o pequeno.
Mas, para além desses pequenos bichos, existem outros que podem destruir os livros, como os roedores ou as baratas. Elsa Nóbrega enumerou ainda outros factores externos que podem estragar um livro, como a humidade ou a temperatura ou até as migalhas que se escondem entre as páginas quando se come ao mesmo tempo que se lê. “É para tudo isso que as crianças são alertadas. Depois, com a ajuda deles, fazemos aqui a higienização e tratamento dos livros”, referiu.
A técnica considera que as crianças chegam ao atelier sem qualquer preocupação com as publicações, mas que, depois, muitas delas aprendem a vê-los como muito mais do que simples objectos. A professora Carla Azevedo é peremptória quando afirma que, nem estas nem as outras crianças, têm cuidado com o manuseamento dos livros, por isso mesmo, diz que fez questão de trazer a sua turma ao atelier para “criarem uma relação afectiva com o livro e assim aprenderem a cuidar dele”.
Aos dez anos, Dani já sabe que um livro de banda desenhada o faz rir quando está triste e que quando quer ser surpreendido tem de ler um de mistérios e suspense. “Gosto de ler porque os livros me intrigam. Sem livros só tínhamos televisão e jogos. Agora ando a ler o Robin dos Bosques”, salientou.
O grupo de Dani, proveniente da Escola Monsenhor Jerónimo do Amaral, é o sétimo a participar no atelier “A minha turma salva um livro”, iniciativa lançada há um ano. Segundo Elsa Nóbrega, foram já várias dezenas de crianças que ajudaram a salvar sete livros antigos.