Dê o que já não quer e receba o que precisa.
i Online, por Maria Espírito Santo, publicado em 1 Nov 2011
Deitar ou não deitar fora, eis a questão.
Já qualquer comum mortal se viu perante este dilema: de não saber o que fazer a coisas arrumadas na dispensa, no fundo do armário, nos recantos da garagem ou nas últimas gavetas de cómodas. Roupa, sapatos, aparelhos electrónicos e outros objectos que são quais almas penadas, colocadas em modo stand by para um futuro próximo que está afinal a anos--luz de distância. Tudo culpa de um pensamento persistente: “Um dia ainda me vai dar jeito, um dia ainda vai dar jeito a alguém.” Não se atormente mais, saiba que o dilema tem solução. Agora pode dar tudo aquilo que já não quer a alguém que lhe dará maior valor e utilização.
Arrume a casa e a consciência social.
Chama-se “Movimento Dou”, ideia que ganha corpo no site dou.pt. Aqui pode divulgar aquilo que quer dar ou procurar em catálogos outras coisas que precise. “Tudo começou com a placa gráfica do meu pai que avariou!” relembra Pedro, entre risos. “Passados dois meses, um amigo de um amigo tinha uma placa para dar, que guardou porque achou que um dia iria dar jeito a alguém.” Pedro é uma das figuras atrás do Movimento Dou. Conta que esta situação caricata funcionou como “teaser” para o projecto que conhecemos hoje. A vontade que nasceu em 2009 foi ganhando contornos mais definidos “em jeito de brincadeira”, entre conversas de café e agora, finalmente, fez nascer o site dou.pt.
A apresentação é simples e a mensagem também. Quer queira dar ou receber, tem de se inscrever. No caso de dar, tem que deixar uma informação breve sobre o bem, operação que demora cerca de 30 segundos – isto se não quiser alongar-se na descrição. Perante vários potenciais interessados, a escolha está nas suas mãos, de decidir a quem quer dar. A entrega pode ser feita em mãos, em casa da pessoa ou noutro local a ser combinado.
A recepção está a ser boa, tanto que o site esteve em baixa durante algumas horas do dia de ontem. Ainda assim, as dúvidas mantêm-se: “Não há um armazém e não é para a caridade, as pessoas ficam super confusas.” Na página de Facebook, há quem deixe questões e outros propostas. Uma destaca-se: que no site também se possam deixar pedidos, daquilo que se precisa. Segundo Pedro, esta ideia não é uma prioridade porque está provado que apesar de funcionar “as pessoas se sentem invadidas por pedidos”.
É praticamente tudo aquilo que se pode dar e receber. Filmes, livros, carrinhos de bebé, colchões e ferros de engomar são alguns dos exemplos. “Um senhor pôs lá uma mula para dar, até parecia sério, mas não pode ser…” Assim sendo, fora do limite do aceitável ficam animais vivos, bens perecíveis, armas de fogo e medicamentos. E para, gradualmente, atribuir credibilidade ao sistema, muito em breve será possível que os utilizadores do serviço se classifiquem uns aos outros, classificação essa que estará visível a todos.
Para já, tudo funciona de forma gratuita. Mas, futuramente e ainda sem data definida, deverá ser imposta uma taxa simbólica de um euro. Isto quer dizer que as pessoas pagarão este valor independentemente do tipo de produto. E, se não forem as felizes eleitas com o mesmo, o valor ficará guardado em saldo para “compras” posteriores. Além de ajudar à manutenção do site, tem outra tarefa essencial. “É muito importante”, adianta Pedro, “vai desviar o brincalhão que quer 300 coisas só porque sim e o facto de pagar um euro faz com que tudo isto deixe de ser lixo para passar a ser uma pechincha!”. Computador à frente, rato na mão, site no endereço certo. Ainda hoje, livre-se do que já não quer, arranje o que precisa, ajude o ambiente, alivie a carteira e combata a crise. Uma cambada de coelhos de uma cajadada só, é o que é.
Mais informação em: www.dou.pt