quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cell2B: Esperança para doentes de leucemia espera investidores



Empresa do ramo da biotecnologia pretende lançar no mercado uma terapia celular que soluciona a rejeição de transplantes. Falta o financiamento.

in DN, por Sónia Simões, 3 Janeiro 2012

Ainda é uma start-up à procura de investidores, mas, por trás, tem quatro sócios com uma investigação certificada na área e um plano de negócios promissor: introduzir no mercado uma terapia celular já testada em doentes de leucemia - uma esperança na não rejeição do transplante de medula.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística são claros: em 2009 morreram 782 doentes de leucemia, uma média de 65 por mês. Conscientes da gravidade da doença, dois dos quatro investigadores que agora constituem a Cell2B estavam em doutoramento pelo MIT Portugal quando, em 2007, responderam ao desafio de experimentar esta terapia celular.

Os sete testados tinham contraído a doença do "enxerto contra o hospedeiro" depois de um transplante de medula óssea. "Pode ocorrer após transplante a cerca de 50% das pessoas, porque há rejeição do sistema imunitário do dador que é transplantado com as células - atacando uma grande amplitude de órgãos", explica Francisco dos Santos. Em caso de rejeição, o tratamento é feito com esteroides, mas "doentes com graus três e quatro não são curáveis". Esta terapia permite "modelar o sistema imunitário de modo a que ele deixe de atacar o corpo do paciente". Dos sete testados, só um faleceu de ataque cardíaco (em nada relacionado com a doença ou a terapia). "Alguns pacientes passaram a graus um e dois, podendo depois ser tratados com esteroides."

Francisco dos Santos e Pedro Andrade foram influenciados pelo colega de laboratório, David Braga, a não deixar morrer o projeto. Os três já se conheciam quando estudavam Engenharia Biológica, mas faltava-lhes alguém mais entendido no ramo empresarial. "Pediram-me um plano de negócios para apresentar numa competição do MIT", recorda Daniela Couto, licenciada em Engenharia Biomédica pela Universidade do Minho. O plano, apresentado em 2010, chegou às finais, mas não ganhou. Ninguém desistiu. "O projeto empresarial nasce porque para comercializar este produto é exigido um ensaio clínico", acrescenta David.

Se se provar que há um benefício, a European Medicins Agency (EMA) concede autorização de comercialização no espaço europeu e depois é possível pedir o equivalente nos Estados Unidos. Feitas as contas, a Cell2B procura alguém que invista oito milhões de euros no ensaio. "Em troca vendemos uma percentagem da empresa. Quando esta tiver receitas ou for vendida, o valor é dividido pelos acionistas", explica Daniela, apesar de aberta a outras possibilidades de financiamento.

Por agora, a Cell2B está em compasso de espera, apesar dos inúmeros telefonemas (até do Brasil) de familiares de doentes de leucemia desesperados. "Agora nada podemos fazer, a menos que os doentes integrem o ensaio."

Um ensaio que, a começar este ano, só terminará em 2015, com quase duas centenas de doentes testados. "A maior parte das empresas, quando chega a este ponto, só tem experiência feita em animais, nós temos testes feitos em pessoas", alerta Daniela. E reforça porque devem os investidores olhar para a Cell2B: "Conseguimos poupar cerca de 50 mil euros ao Sistema Nacional de Saúde por paciente, o que significa uma redução de quase um terço do custo total do tratamento." Mais, há estudos iniciais que apontam no sentido de esta terapia poder ser usada para outros fins, como na doença de Crohn ou em infeções hospitalares. "No total, estimamos que cerca de quatro milhões de doentes/ano sejam afetados por condições a que nós podemos responder."

Para já, dois dos sócios vivem de uma bolsa pós-doutoramento e a Cell2B sobrevive do prémio Tecnologias da Saúde e Biotecnologia, do Concurso Nacional de Inovação BES de 2011. Desconhecem até quando.