Proença-a-Nova usa floresta para vender créditos de carbono
in Público, 22.09.2009, Manuel Fernandes Vicente
A Câmara de Proença-a-Nova pretende apostar fortemente nos próximos anos no mercado voluntário internacional de carbono como forma de valorizar o seu património florestal, conseguir atrair o interesse dos proprietários florestais para as vantagens económicas acrescidas que podem obter dos seus pinhais e eucaliptais e, por fim, para os próprios benefícios ambientais provocados pela sua vasta floresta. O objectivo é que o município possa entrar a médio prazo nos mercados voluntários de carbono e vender os seus créditos em dióxido de carbono (CO2) a quem deles precise.
De acordo com um recente estudo que avaliou a quantidade de dióxido de carbono retirada e acrescentada à atmosfera dentro do perímetro do concelho, sabe-se que os 270 quilómetros quadrados de floresta de Proença-a-Nova absorvem (ou sequestram, na designação mais técnica) 62 mil toneladas de CO2 através do processo de fotossíntese da atmosfera, enquanto se libertam 32 mil toneladas por emissões de diversas fontes de CO2 para o ambiente exterior.
Neste sentido, o concelho tem um crédito positivo de CO2 de 30 mil toneladas que poderá vender nos mercados emergentes a países ou empresas que deles precisem, por emitirem mais substâncias poluentes e gases com efeito de estufa e contribuintes para o aquecimento global do planeta que aquelas que absorvem.
Na sequência do Protocolo de Quioto, celebrado em Dezembro de 1999, os países da União Europeia acordaram diminuir as emissões de gases com efeito de estufa, podendo os créditos ser positivos ou negativos entre absorções e emissões de CO2 (e outros gases ainda com maior potencial de aquecimento, como por exemplo o metano, o óxido nitroso e os clorofluorcarbonetos). E é neste mercado que Proença-a-Nova quer entrar para obter benefícios de e para a sua floresta, dominada sobretudo por pinheiros, eucaliptos e ainda montados de sobro e azinho.
"Queremos que o concelho e os seus produtores florestais possam beneficiar desta participação no mercado de carbono, em que simultaneamente Proença-a-Nova ajuda a despoluir o país e o planeta", afirma João Paulo Catarino, presidente do executivo local e dinamizador do processo de adesão ao mercado internacional ainda a decorrer. "A nossa estratégia é aumentar a nossa capacidade de sequestro de CO2 da atmosfera e simultaneamente reduzir as nossas emissões poluentes de gases com efeito de estufa, aumentando os nossos créditos ambientais que, depois de vendidos no mercado, trarão lucros para reinvestir na protecção e vigilância da floresta e em incentivos à plantação de novas áreas", esclarece João Paulo Catarino.
Eficiência energética
A par da aposta na vigilância e controlo da floresta, a estratégia procurará a sua diversificação, bem como o apoio à agricultura, como a vinha e a olivicultura, direccionando a actividade dos agricultores para culturas com apoio comunitário. E, por outro lado, para a renovação de áreas florestais envelhecidas, já que as árvores jovens sequestram mais CO2 e libertam mais oxigénio que árvores mais idosas.
Além da capacidade de absorver mais CO2, o projecto Proença-a-Nova - Um concelho carbono mais procurará reduzir também as emissões de gases que contribuem para o efeito de estufa e o aquecimento global através do lado energético.
"Estamos no município a substituir os veículos mais antigos e poluentes por outros mais eficientes, só não recorrendo mais sistematicamente a bicicletas porque a topografia acidentada do concelho o não permite", nota João Paulo Catarino, dando ainda o exemplo do acordo com a EDP para substituição das lâmpadas actuais por lâmpadas de vapor de sódio, com maior eficiência energética. Outro aspecto de destaque será a criação de oleões, que irão recolher óleos alimentares e servir de matéria-prima para licenciar uma unidade fabril do município capaz de, a partir dos óleos recolhidos, obter combustível para a frota automóvel municipal.
Em Agosto, o edifício dos paços do concelho de Proença-a-Nova tornou-se energeticamente auto-suficiente após a instalação de diversos painéis fotovoltaicos, capazes de produzir a energia necessária para os serviços municipais e ainda vender o excedente à EDP, como é obrigatório por lei. Até 31 de Dezembro de 2018, e de acordo com as directivas comunitárias, todos os edifícios públicos têm de ser assim.
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