Houve quem esperasse duas horas para dar sangue ontem. Apesar de a oferta ter sido positiva, autoridades reiteram apelo à dádiva.
in DN, por DIANA MENDES2010-02-14
Ricardo Oliveira esperou ontem duas horas para dar sangue no centro regional de Lisboa do Instituto Português de Sangue (IPS). Aos 20 anos, decidiu dar sangue pela primeira vez, "convencido por uma amiga que costuma dar habitualmente. Já estava a pensar nisso, mas decidi fazê-lo ontem depois de ouvir que havia falta de sangue". A partir de agora, tenciona continuar a dar. Ricardo não é exemplo único. Ontem, foram muitas as estreias na dádiva, que permitiu uma reserva "superior a mil sacos em todo o País", disse ao DN Gabriel Olim, o presidente do IPS.
Os portugueses responderam ao apelo urgente para dar sangue, perante a grave escassez que o País atravessa. Ao fim da tarde, ainda havia 40 a 50 pessoas à espera de dar sangue em Lisboa. E faziam- -no pacientemente. "A afluência foi enorme. Perante as filas de espera, decidimos continuar a fazer a colheita até haver dadores", conta Gabriel Olim, satisfeito por sentir que os colaboradores não estão a ter mãos a medir. "Até veio ontem uma brigada nossa do Alentejo para ajudar!"
No centro do Porto, segundo a mesma fonte, "as colheitas ultrapassaram as 480, tendo-se inscrito mais de 600 pessoas. Em Coimbra ainda não havia dados apurados, mas o esforço total já garante reservas para um dia de consumo.
Há dois dias, quando surgiram os primeiros apelos aos portugueses, Gabriel Olim disse que eram precisas colheitas diárias de duas mil unidades para responder à actual escassez. Em cada dia, consomem-se cerca de 1070 unidades de sangue, mais do que a média de 1036 que era habitual, e a colheita não tem ultrapassado as 970, desfalcando lentamente os hospitais e o Instituto Português de Sangue, que os fornece.
Nos hospitais, que têm necessidade de ter uma reserva de segurança para quatro dias, não tinham quantidades para mais de dois. Já o IPS tinha apenas sangue para um dia de consumo nacional - 1094 doses. Faltavam sobretudo sacos de sangue do tipo A e 0, sendo que o 0 negativo é o único tipo de sangue que pode ser usado em transfusões para todos os tipos de sangue. Ontem, os tipos A e 0 positivos já tinham garantido as reservas para mais um dia. "Perguntam-me se seremos capazes de dar resposta à procura caso haja uma catástrofe. Numa catástrofe estamos nós agora", desabafa Gabriel Olim.
É perante este cenário, a melhorar diariamente, que o responsável anuncia que a colheita vai continuar nos próximos dias. "Amanhã, segunda e terça-feira também vamos ter os centros regionais e as brigadas a fazer colheitas e o nosso pessoal está preparado para o fazer nesta fase difícil."
Alguns hospitais já tiveram de adiar cirurgias para responder às dificuldades, especialmente em Lisboa. O maior hospital do País, Santa Maria, já teve de adiar e reagendar algumas cirurgias. "Pensamos que nos próximos dias tudo se vai resolver. Mas sabemos que há cirurgias, nomeadamente a aneurismas ou do foro cardíaco, que têm sido adiadas em vários hospitais. Se fossem realizadas, seriam um rombo para as reservas de sangue." As cirurgias e situações urgentes continuam asseguradas.