Banco público de células estaminais já tem 1400 oportunidades de salvar vidas
Público, 14.01.2010 - 07:46 Por Andrea Cunha Freitas
Doação do sangue do cordão umbilical ultrapassou expectativas. No final deste semestre, as recolhas do Lusocord já serão usadas em todo o mundo. Por cá, Lourenço foi o primeiro a dar.
Matias, "Carmenzita", Afonso, Patrícia, Eduardo, são apenas alguns dos nomes que Helena Alves, directora do Centro de Histocompatibilidade do Norte (CHN), sabe de cor. São crianças com leucemia e que podem vir a precisar do Lusocord, o banco público de sangue do cordão umbilical, acolhido no CHN. Passado um ano do anúncio formal de José Sócrates que lançou a criação do esperado banco público, há já 1400 dádivas de sangue do cordão umbilical em Portugal para servir o mundo inteiro e que se destinam a transplantes e investigação. A meta de Helena Alves é conseguir a criopreservação de, pelo menos, três mil amostras até ao final do ano e integrar o banco na rede mundial no final do semestre. O sucesso depende apenas da vontade das grávidas do país.
No centro de tudo estão as preciosas células estaminais que podem ajudar a salvar uma vida ameaçada, por exemplo, com uma leucemia. Quando falham os tratamentos e a procura de um compatível dador adulto de medula óssea, a esperança de quem está doente bate à porta do sangue do cordão umbilical. Desde o ano passado que essa porta pública existe formalmente em Portugal atrás do nome Lusocord e com a morada do CHN, no Porto.
As dávidas guardadas no Lusocord ainda não podem ser usadas. Helena Alves explica que falta cumprir algumas formalidades que certificam a qualidade do processo e que o acesso às amostras poderá ser uma realidade no início do Verão. Para já, existe uma equipa que todos os dias recebe, prepara e guarda o conteúdo de dezenas de malas térmicas azuis que chegam de todo o país. "Os blogues e fóruns das grávidas têm ajudado muito a difundir a informação", agradece a directora do CHN.
A campanha - que tem o rosto de dois bebés chamados João e Joana e o lema "Ó mãe! O umbiguinho não é só para as cócegas!" - vai intensificar-se e será também criada uma linha de apoio para esclarecer dúvidas. Helena Alves adianta algumas respostas: entre 15 a 20 por cento das amostras serão usados para investigação (sobretudo na Medicina Regenerativa), as amostras passam por filtros de segurança (testes para afastar a hipótese de infecção e controlos para perceber se as células colhidas são viáveis e cumprem os critérios em termos de número e volume).
Todo o processo, desde a entrega à recolha do kit, é gratuito. E, para as grávidas interessadas, a responsável aconselha um contacto com a Lusocord no final da gestação, pelas 37 semanas. Por fim, Helena faz eco das palavras de quem já deu. "As mães encaram o nascimento como algo sagrado. A grandiosidade do momento duplica se sentirem que podem estar a dar vida também a alguém que está quase a morrer. O sangue do cordão que vai para o lixo pode ser a salvação de uma pessoa." Helena Alves não esconde as reservas sobre a iniciativa privada e o negócio nesta área. "Antes fosse verdade que era uma boa solução guardar as células só para si. Por exemplo, no caso de uma leucemia, a probabilidade de algum dia a própria amostra ser útil é inferior a um por cento", nota a especialista, que admite assistir a um "assédio e desinformação" das grávidas pela iniciativa privada.
Mas, sobre isso, não se quer alongar. Prefere falar da sua casa pública, onde vive o reconhecimento pela resposta das grávidas portuguesas e onde guarda muitas histórias. Algumas más. São aquelas que falam das crianças que não conseguiu salvar e viu morrer. Como o Simão. "Chamávamos-lhe "o puto-coragem"", lembra, comovida. Helena Alves sabe bem que há muitos "putos-coragem" a precisar do Lusocord. E muitas histórias boas. Como a de Lourenço, o primeiro dador do banco (numa fase ainda de ensaios) que já tem 20 meses.
Anabela Rodrigues descansava a barriga de mais de 30 semanas de gravidez no sofá em frente à televisão e conheceu a história de Tiago, uma criança com leucemia. Ouviu os apelos dos pais desesperados por um dador de medula óssea e não se limitou a emocionar-se com o caso. Fez mais. Foi à Internet, procurou o CHN e mandou um e-mail para Helena Alves. Disse que queria ajudar e que, em vez de guardar num centro privado, queria que ficassem com o sangue do cordão do Lourenço.
O CHN estava numa fase de ensaios. Ainda assim, Helena Alves aceitou a dádiva que foi guardada no IPO. Lourenço nasceu em Maio de 2008, na Maternidade de Júlio Dinis, no Porto. "Foi o pai do Lourenço que, no mesmo dia, trouxe a lancheira azul ao parque de estacionamento onde já o esperavam." Será difícil encontrar uma defensora da doação mais convincente do que Anabela. "Gostava que a recolha do sangue fosse parte do protocolo de um parto. É algo precioso de mais para acabar no lixo. Quem não quisesse doar é que assinava um papel. É um processo que não interfere no parto, na segurança da mãe e do filho. Só isto faz sentido", diz, atirando quase indignada: "Ninguém guarda o próprio sangue, pois não?"
No centro de tudo estão as preciosas células estaminais que podem ajudar a salvar uma vida ameaçada, por exemplo, com uma leucemia. Quando falham os tratamentos e a procura de um compatível dador adulto de medula óssea, a esperança de quem está doente bate à porta do sangue do cordão umbilical. Desde o ano passado que essa porta pública existe formalmente em Portugal atrás do nome Lusocord e com a morada do CHN, no Porto.
As dávidas guardadas no Lusocord ainda não podem ser usadas. Helena Alves explica que falta cumprir algumas formalidades que certificam a qualidade do processo e que o acesso às amostras poderá ser uma realidade no início do Verão. Para já, existe uma equipa que todos os dias recebe, prepara e guarda o conteúdo de dezenas de malas térmicas azuis que chegam de todo o país. "Os blogues e fóruns das grávidas têm ajudado muito a difundir a informação", agradece a directora do CHN.
A campanha - que tem o rosto de dois bebés chamados João e Joana e o lema "Ó mãe! O umbiguinho não é só para as cócegas!" - vai intensificar-se e será também criada uma linha de apoio para esclarecer dúvidas. Helena Alves adianta algumas respostas: entre 15 a 20 por cento das amostras serão usados para investigação (sobretudo na Medicina Regenerativa), as amostras passam por filtros de segurança (testes para afastar a hipótese de infecção e controlos para perceber se as células colhidas são viáveis e cumprem os critérios em termos de número e volume).
Todo o processo, desde a entrega à recolha do kit, é gratuito. E, para as grávidas interessadas, a responsável aconselha um contacto com a Lusocord no final da gestação, pelas 37 semanas. Por fim, Helena faz eco das palavras de quem já deu. "As mães encaram o nascimento como algo sagrado. A grandiosidade do momento duplica se sentirem que podem estar a dar vida também a alguém que está quase a morrer. O sangue do cordão que vai para o lixo pode ser a salvação de uma pessoa." Helena Alves não esconde as reservas sobre a iniciativa privada e o negócio nesta área. "Antes fosse verdade que era uma boa solução guardar as células só para si. Por exemplo, no caso de uma leucemia, a probabilidade de algum dia a própria amostra ser útil é inferior a um por cento", nota a especialista, que admite assistir a um "assédio e desinformação" das grávidas pela iniciativa privada.
Mas, sobre isso, não se quer alongar. Prefere falar da sua casa pública, onde vive o reconhecimento pela resposta das grávidas portuguesas e onde guarda muitas histórias. Algumas más. São aquelas que falam das crianças que não conseguiu salvar e viu morrer. Como o Simão. "Chamávamos-lhe "o puto-coragem"", lembra, comovida. Helena Alves sabe bem que há muitos "putos-coragem" a precisar do Lusocord. E muitas histórias boas. Como a de Lourenço, o primeiro dador do banco (numa fase ainda de ensaios) que já tem 20 meses.
Anabela Rodrigues descansava a barriga de mais de 30 semanas de gravidez no sofá em frente à televisão e conheceu a história de Tiago, uma criança com leucemia. Ouviu os apelos dos pais desesperados por um dador de medula óssea e não se limitou a emocionar-se com o caso. Fez mais. Foi à Internet, procurou o CHN e mandou um e-mail para Helena Alves. Disse que queria ajudar e que, em vez de guardar num centro privado, queria que ficassem com o sangue do cordão do Lourenço.
O CHN estava numa fase de ensaios. Ainda assim, Helena Alves aceitou a dádiva que foi guardada no IPO. Lourenço nasceu em Maio de 2008, na Maternidade de Júlio Dinis, no Porto. "Foi o pai do Lourenço que, no mesmo dia, trouxe a lancheira azul ao parque de estacionamento onde já o esperavam." Será difícil encontrar uma defensora da doação mais convincente do que Anabela. "Gostava que a recolha do sangue fosse parte do protocolo de um parto. É algo precioso de mais para acabar no lixo. Quem não quisesse doar é que assinava um papel. É um processo que não interfere no parto, na segurança da mãe e do filho. Só isto faz sentido", diz, atirando quase indignada: "Ninguém guarda o próprio sangue, pois não?"