terça-feira, 17 de agosto de 2010

Lembram-se da Marta?

A Sílvia tornou-se dadora pela Marta e este ano salvou a vida de uma criança de 2 anos. 
Leiam o testemunho.

publicado por Associação Portuguesa Contra a Leucemia a Sexta-feira, 23 de Julho de 2010

A Marta sofria de Leucemia Linfoblástica Aguda, necessitou de uma dador de medula compatível e encontrou. Foi transplantada em Agosto do ano passado, actualmente encontra-se bem e com perspectivas de regressar no próximo ano lectivo à Escola!

O caso da Marta sensibilizou milhares de pessoas para esta causa e acrescentou cerca de 20.000 dadores ao Registo Nacional de Dadores de Medula Óssea.

Seguramente que haverá mais casos de vidas salvas por dadores que se registaram naquela altura, mas neste momento queremos partilhar convosco o testemunho da Sílvia, que se tornou dadora em Maio de 2009 precisamente por causa da Marta e em Abril deste ano foi "activada" como dadora e teve o privilégio de salvar a vida de uma criança de 2 anos.

Este fantástico testemunho deverá ser suficiente para incentivar de forma definitiva e imediata todos os que ainda não são dadores de Medula a registarem-se. Em cada um de nós pode residir a esperança de vida para alguém, em qualquer parte do mundo. VAMOS FAZER COMO A SÍLVIA E TENTAR SALVAR VIDAS?

TESTEMUNHO DA SÍLVIA, DADORA DE MEDULA EM ABRIL DE 2010:

"Foi por causa da Marta que eu me registei como dadora em Maio de 2009, quando uma brigada da CEDACE se deslocou ao centro de escritórios onde trabalho em Oeiras. Claro que já tinha ouvido falar da doação de medula e sempre pensei que seria uma coisa que gostaria de fazer, no entanto, nunca parecia surgir a ocasião para me deslocar a Lisboa para me inscrever. A Marta é filha de um amigo de uma colega de trabalho e quando soube da sua história, o meu registo na CEDACE passou a ser uma prioridade.
Apesar de se terem inscrito imensos novos dadores por causa da Marta, não foi nenhum Português que a salvou. A Marta conseguiu a medula que precisava, mas veio de um dador estrangeiro.
Eu fui contactada pela primeira vez pela CEDACE em Janeiro de 2010 para dar uma nova amostra de sangue, porque havia a possibilidade de ser compatível com uma pessoa que precisava de medula. Dei outra nova amostra em Março e foi só no início de Abril que me confirmaram que era compatível e me perguntaram se estaria efectivamente disponível para a doação.

Claro que sim! Afinal era a vida de uma pessoa que estava em jogo.

Marcaram-me uma consulta no IPO em meados de Abril e fizeram-me imensos exames, para se assegurarem que tinha condições para que a doação pudesse ser feita. Foi nesta altura que me perguntaram se estaria disposta a fazer a doação através da recolha directa, o que implicaria uma pequena intervenção cirurgíca, composta por várias punções na bacia, para retirarem a medula directamente do osso. Esta intervenção implicava uma anestesia geral e o meu internamento no hospital durante 24h. Eu poderia sempre ter optado pela recolha periférica (em que recolhem a medula directamente do sangue, este processo é muito mais simples para o dador uma vez que não envolve qualquer cirurgia nem internamento), mas sinceramente nem tal me passou pela cabeça. Eu estava ali para fazer o que me fosse possível para ajudar a salvar a vida de uma pessoa, e se o médico me disse que neste caso, para esta pessoa, o mais adequado seria fazer a recolha directa, eu concordei sem qualquer hesitação. Já tinha passado por uma cirurgia com anestesia geral (há cerca de 20 anos atrás) e por 2 cesarianas, sem qualquer problema, pelo que esta pequena intervenção não me assustava minimamente. No entanto, quando o médico me avisou que a partir daquela altura, em que fui aceite como dadora, qualquer problema de saúde que tivesse, mesmo que fosse uma pequena constipação, poderia pôr em causa a doação e consequentemente a vida do doente, passei a ter imenso cuidado comigo e dei com os meus colegas em doidos, por passar a vida a desligar o ar condicionado para não correr o risco de me constipar...

No dia marcado cheguei ao IPO de manhã cedo. Fui a primeira a entrar no bloco operatório, às 8h30, uma vez que de acordo com a lei Portuguesa, não se pode congelar a medula óssea e a recolha e implantação têm de ser feitas no próprio dia. A pessoa que iria receber a minha medula não vive em Portugal, pelo que, após a recolha, a medula teve de ser enviada para o aeroporto para prosseguir para o seu destino. Acordei por volta das 10h na sala de recobro, onde estive até ao final da manhã em monitorização. Depois fui transferida para um quarto e por volta das 14h já me tinham desligado da máquina de monitorização e tirado o soro. Afinal de contas, não tinha dores nenhumas e se me tivessem deixado, teria vindo para casa naquela altura. Mas, por precaução, tive de ficar no hospital até à manhã seguinte. Deram-me alta por volta das 9h e depois de trocar os pensos, e contar quantos furos tinha nas costas (foram 10), fui a conduzir para casa. Apesar de todo o pessoal médico e auxiliar ter sido extremamente simpático e atencioso, a pior parte desta experiência foi dormir (ou melhor, não dormir) no hospital, por causa do barulho, e retirar a enorme quantidade de cola com que fiquei na cintura, de todos os pensos que me colocaram.

Voltei ao trabalho 2 dias depois de ter feito a doação, ou seja, no dia seguinte depois de ter tido alta, e sentia-me bem. Claro que sentia as costas doridas, como se tivesse dado uma queda e batido com as costas em algum lado, mas isto acontecia porque tinha ficado com nódoas negras no sítio de alguns dos furos e quando me encostava a qualquer coisa magoava-me um bocadinho. Passados 4 ou 5 dias já não sentia quase nada e os furos são tão pequenos que podem ser confundidos com pequenos sinais, picadas de mosquito.

Esta experiência foi incrível, sinto-me uma previlegiada por ter feito parte deste processo e por ter tido a oportunidade de contribuir para ajudar a salvar uma vida. É nesta altura, em que saímos do nosso pequeno mundo e da nossa rotina, para fazer parte de algo maior, que sentimos, que pelo menos neste caso, pudemos fazer a diferença e tornámos o mundo um pouco melhor. Conseguimos mudar o mundo, chegando a uma pessoa de cada vez.
Todos os dias penso no menino de 2 anos que recebeu a minha medula, se estará a recuperar bem, e penso também na Marta e na família dela. Foram eles que tornaram isto possível ao divulgarem a sua história e ao terem mobilizado tanta gente para se tornar dador. E embora eu não tenha podido ajudar a Marta, foram eles que tornaram possível que eu e outros dadores possamos ajudar outras crianças. Muito obrigada.
"