sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

64 mil novos dadores de medula num ano - Portugal - DN

Portugal é o terceiro país no mundo com mais dadores por milhão de habitantes. Campanhas de familiares ajudam.

64 mil novos dadores de medula num ano - Portugal - DN


Mais de 64 mil portugueses inscreveram-se no ano passado no Registo de Dadores de Medula Óssea, um aumento de 35% em relação ao ano anterior. O que faz com que Portugal tenha cerca de 246 mil dadores inscritos, o que o torna o segundo país europeu e o terceiro a nível mundial com mais dadores para transplante por milhão de habitantes. As iniciativas dos familiares dos doentes, a maioria com leucemia, têm contribuído para o enorme aumento que se nota nos últimos anos, reconhecem os responsáveis.

"Todos os anos, por esta altura, quando fazemos o balanço, digo que vamos ter um abrandamento, porque somos um País com apenas dez milhões de habitantes, uma população envelhecida e o registo só aceita dadores até aos 45 anos. E mais uma vez sou surpreendido pela solidariedade da sociedade portuguesa
", explica Hélder Trindade, director do Centro de Histocompatibilidade do Sul.

A campanha para encontrar um dador compatível para uma menina de 4 anos com leucemia, Marta, em 2009, criou uma onda de solidariedade tal que terá feito com que se registassem dez mil dadores. Logo outros pedidos de ajuda surgiram através da Net. Cada uma com a sua página na rede social Facebook, seguida por milhares de pessoas, onde se vão partilhando novidades sobre o estado de saúde dos doentes mas também sobre as acções de inscrição de dadores. "O nosso esforço tem sido acompanhar a população que se está a inscrever, fazer registo e tipagem", reconhece o médico Hélder Trindade.

Desde 2006 o número de inscritos quadruplicou, o que se reflecte também nos resultados. No ano passado foram feitos 52 transplantes de medula com dadores sem relações de parentesco - mais cinco do que no ano anterior. Em 14 casos recorrendo a dadores portugueses e nos outros 38 recorrendo a dadores inscritos no estrangeiro.

Por outro lado, houve 58 colheitas de medula. Ou seja, além das 14 para doentes portugueses, houve outros 44 para o estrangeiro. "São dados muito relevantes que mostram o grande esforço de colaboração internacional", explica.

Quando os médicos percebem que é necessário um transplante da medula óssea procuram primeiro na família, porque se houver irmãos há 25% de probabilidades de serem compatíveis. Se isso não for opção, faz-se logo uma pesquisa nos registos nacionais e internacionais, que no total contam com mais de 15 milhões de dadores. "É uma questão de minutos", acrescenta Hélder Trindade.

Muitas vezes encontra-se um dador no estrangeiro porque a população é "geneticamente muito semelhante". Isso explica que os portugueses tenham contribuído no ano passado para salvar vidas em países como Espanha (8), Alemanha (5), França (4), EUA (6), mas também Israel, Argentina e Croácia.

Quando não se encontra um dador compatível numa primeira pesquisa, insiste-se regularmente, porque o registo cresce todos os meses. Assim, o responsável não consegue dizer quantas pessoas continuam à espera de um transplante por não encontrarem dador. "Fizemos 2124 pesquisas no ano passado e apenas 58 colheitas", exemplifica. Isso mostra também que a compatibilidade encontrada numa primeira pesquisa tem de ser depois sujeita a mais testes. "Há pessoas que percebemos logo que têm um perfil genético tão diferente que será difícil encontrar dador", lamenta. Por isso, o médico continua a apelar para que as pessoas se inscrevam, sobretudo os mais jovens.