sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Da Índia rural para a civilização, com muito Sol (e energia)

“[Tentei] equilibrar a estabilidade social, económica e ambiental no mesmo nível. E destruir os mitos de que os pobres não podem pagar pela tecnologia, que não podem mantê-la e que não se pode gerir uma empresa comercial e atingir os objectivos sociais”

in GreenSavers, publicado em 3 de Outubro de 2011. 


Depois de dividir a sua formação entre o Instituto de Tecnologia da Índia e Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, Harish Hande não se tornou engenheiro eléctrico, como seus colegas. Ele tinha uma missão mais compexa e decidiu focar-se na socioeconomia da implantação de tecnologia.

Em 1995, Hande fundou a Selco – Solar Electric Light Company – e confiou o seu investimento à E+Co, uma organização de desenvolvimento internacional especializada em empreendedorismo social. O objectivo era conciliar o desenvolvimento social, económico e ambiental, e fazer chegar a tecnologia – a caríssima tecnologia das renováveis – à Índia pobre e rural. E, basicamente, destruir mitos.

[Tentei] equilibrar a estabilidade social, económica e ambiental no mesmo nível. E destruir os mitos de que os pobres não podem pagar pela tecnologia, que não podem mantê-la e que não se pode gerir uma empresa comercial e atingir os objectivos sociais”, explicou.

Há 15 anos que a Selco faz parcerias com pequenos bancos da Índia rural, no sentido de levar a electricidade a mais de 100 mil casas, em vilas e aldeias que nunca tinham visto o brilho da luz eléctrica. Este parceria traz uma grande responsabilidade à família que recebe a benesse renovável: ela é dona do sistema e paga com microcréditos flexíveis.

Hande e a sua Selco são hoje portadores de inúmeras histórias sobre desenvolvimento social e económico. Porque mais do que levar a electricidade a casas, até então, às escuras, o empreendedor levou uma mudança de mentalidade a esta população, alguma educação e literacia.

Ora veja: a Selco descobriu um tipo de aritmética que só se pode aprender ao conhecer o dia-a-dia de uma população. Hande conta uma história de uma mulher que não podia pagar um painel solar se o empréstimo fosse de 300 rupias por mês, mas poderia fazê-lo a 10 rupias por dia. Porquê? Porque ela nunca conseguiria economizar 300 rupias do por mês mas, no seu dia-a-dia, usava 15 rupias em querosene. Eliminada esta despesa com o painel solar, ela já poderia pagar o empréstimo.

Outro exemplo de como há problemas que apenas podem ser resolvidos no terreno: há milhões de indianos pobres que têm telemóveis, ainda que não tenham tomadas para os carregar.

As recargas de telemóveis custam 5 rupias, quando o rendimento mensal médio de uma família é de apenas 1600 rupias por mês (€22; R$55). “É uma ironia. Enquanto ficamos mais pobres dentro do quadro da sociedade, mais energia gastam as pessoas. Se pensarmos nestes investimentos [em energia] a cinco anos, [as renováveis] ficam iguais ou mais barato”, explica o empreendedor.

Então, chegamos a uma conclusão: na Índia rural, a energia solar é mais barata que a convencional. E uma família que ganha 22 euros por mês está melhor servida – mesmo financeiramente – por uma fonte iluminada de energia limpa, ao contrário do que pensa meio mundo, sobretudo nos países desenvolvidos.

Uma das mais incríveis notícias recebidas, nos últimos meses, por Hande, explica que a melhor universitária formada, em 2010, no estado de Karnataka – onde fica o centro tecnológico da Índia moderna, Bengalore – cresceu numa aldeia iluminada pelos painéis solares da Selco. E isso, como se sabe, não tem preço.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Futebolista de 89 anos é recorde do Guiness

in DN, 4-10-2011

Tércio Mariano, brasileiro de 89 anos, é uma prova viva de que "velhos são os trapos". Todas as manhãs, Tércio levanta-se para uma caminhada de dez quilómetros, trata da sua quinta, ordenha as vacas e cultiva alguns alimentos. Até aqui, nada de inédito, não fosse Tércio Mariano o mais velho futebolista em actividade.

O livro de recordes do Guiness reconhece Tércio Mariano como o mais velho futebolista em actividade. Aos 89 anos, o brasileiro joga como lateral direito no Goiandira, clube da sua terra natal, que representa desde 1973. Tércio sabe cruzar, jogar de calcanhar e fazer golos. O seu ídolo é, também, um veterano do futebol brasileiro: Romário, ex-craque do Barcelona, que tem... metade da idade de Tércio Mariano.

"Muitos já me disseram: O que se passa na tua cabeça?, com essa idade a jogar futebol? Você não tem juízo, não?. Eu digo: Não, enquanto as pernas aguentarem eu continuo", revelou, numa reportagem feita por uma cadeia televisiva brasileira.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Escolhas alimentares amigas do ambiente

Hábitos alimentares "verdes"

in Life&Style, bem estar - Público, 01.10.2011 por Patrícia Padrão, nutricionista

A produção intensiva de alimentos observada nas últimas décadas tem-se associado a uma grande emissão de gases com efeito de estufa que contribuem para o aquecimento global. É estimado por exemplo, que o sistema alimentar dos Estados Unidos, contribua para, pelo menos, 20 por cento dos gases com efeito estufa produzidos no país.

Uma alimentação amiga do ambiente é a que acarreta uma baixa emissão de gases com efeito de estufa, nas várias fases do ciclo dos alimentos, incluindo produção, embalamento, processamento, transporte, preparação e tratamento dos desperdícios. À quantidade de gases com efeito de estufa emitidos por cada cidadão chama-se pegada de carbono e esta varia de pessoa para pessoa, de acordo com as suas escolhas. Desta forma, os nossos hábitos alimentares diários, poderão ter um impacto significativo sobre as mudanças climáticas.

A carne produzida de forma intensiva é um dos alimentos com maior impacto ambiental. No Brasil, um dos maiores produtores mundiais de carne, estima-se que a criação de bovinos tenha sido responsável por grande parte da desflorestação do Estado do Amazonas, com as implicações ambientais que lhe são inerentes. Medidas como reduzir o consumo de carne e aumentar a ingestão de produtos hortofrutícolas, poderão contribuir muito para a diminuição da emissão de gases responsáveis pelo aquecimento global.

Há que ter em conta também o transporte a que os alimentos estão sujeitos, já que este aspecto poderá ser responsável por uma elevada variabilidade na emissão de gases. Por exemplo, o consumo de frutos tropicais que viajaram de avião até nós, associa-se à emissão de cerca de trinta vezes mais gases responsáveis pelo aquecimento global comparativamente a frutos produzidos localmente. Já o transporte de maçãs por via marítima pode aumentar a produção de gases com efeito de estufa em 100 por cento em comparação às maçãs portuguesas que nos chegam por via terrestre. Mesmo por esta via, os longos percursos acarretam maiores emissões de gases para a atmosfera, sendo por isso a “maçã” da nossa terra, a escolha mais sensata em termos ambientais.

Outro aspecto a ter em consideração quando se fala de alimentação e ambiente, será o respeito pela sazonalidade dos alimentos. Actualmente, começamos a ter dificuldade em saber a que estação do ano pertence aquilo que consumimos, já que uma grande parte dos alimentos passou a estar disponível durante todo o ano. Degustamos (já sem espanto) cerejas, melão ou uvas pelo Natal e temos à disposição tomate ou feijão-verde durante todo o ano e esquecemo-nos que, para além do conteúdo nutricional dos alimentos fora de época ser diferente, os custos ambientais são bem mais elevados.

Os alimentos muito processados, por outro lado, obrigam a um consumo elevado de energia, resultando frequentemente numa elevada quantidade de desperdícios relacionados com o embalamento. Para além desta questão, preservamos mais o ambiente se reduzirmos a produção de desperdícios alimentares, adequando as porções de alimentos ao nosso apetite, evitando assim sobras desnecessárias.

Preferir uma alimentação rica em alimentos de origem vegetal, produzidos localmente e sempre que possível não embalados, associada a um menor consumo de carne, será um passo importante em direcção a uma alimentação amiga do ambiente, com a vantagem de tender a ser também do ponto de vista nutricional, mais em consonância com as recomendações internacionais para a prevenção das doenças crónicas da civilização.