in Ciência Hoje, 2010-02-17
João Passos, investigador do Instituto para a Saúde e Envelhecimento (Institute for Ageing and Health) da Universidade de Newcastle, explicou à Lusa que o mecanismo agora identificado justifica porque pára a divisão celular, um processo normal no organismo que cessa a partir de determinado momento, impedindo a regeneração dos tecidos associada ao envelhecimento. O facto de as células pararem a sua actividade estava identificado há 60 anos, mas desconhecia-se qual o processo molecular que desencadeava esta inactividade.

Este encurtamento dos telómeros desencadeia um percurso molecular para as mitocôndrias - estrutura no citoplasma da célula que produz a energia necessária para esta viver -, que a leva a produzir espécies reactivas de oxigénio que param a divisão celular.
"Este é o mecanismo que explica porque as células não conseguem proliferar continuamente" e ficam senescentes, explicou João Passos, salientando que este estado, a senescência, acaba por ter dois efeitos paradoxais.
Ao parar a divisão celular, impede-se também a proliferação de células danificadas, o que pode impedir o aparecimento de cancro mas, assinalou o investigador, a contínua produção de espécies de oxigénio reactivas, ou radicais livres, pela mitocôndria celular, e que mantém a célula em senescência, acabam por danificar os tecidos à sua volta e desencadear doenças associadas ao envelhecimento, como a diabetes ou problemas cardiovasculares.
Intervir na senescência é “um desafio para o futuro”
João Passos, que integrou uma equipa multidisciplinar nesta investigação, salienta que ainda se está "muito longe" de conseguir intervir na senescência, de forma a atenuar os efeitos da produção de radicais livres e, simultaneamente, travar a proliferação de células cancerosas mas este é, definitivamente, um "desafio para o futuro".
"É um processo extremamente complicado, os mecanismos moleculares envolvidos no processo são muito complexos e ainda estamos no início. Identificámos um mecanismo, existem muitos outros mecanismos que temos ainda de descobrir", resume o investigador, que alerta para a necessidade de um olhar menos fantasioso em torno da investigação sobre o envelhecimento.
"Não estamos interessados em descobrir o elixir da vida eterna. A população está a envelhecer e o tempo máximo de vida tem aumentado continuamente nos últimos anos. A maior parte da população vai ter mais de 65 anos. O que temos de compreender é a base do envelhecimento para que a vida das pessoas que estão a viver mais tempo melhore, é esse o nosso objectivo", concluiu.