i online, por Marta F. Reis, Publicado em 22 de Fevereiro de 2010
As maternidades nacionais vão passar a poder ter kits para fazer a recolha do sangue do cordão umbilical após o parto. O banco público nacional Lusocord já começou a desenvolver protocolos com alguns hospitais, entre eles o Hospital de São João, no Porto, e os hospitais de Aveiro e Viana do Castelo, disse ao i Helena Alves, directora do Centro de Histocompatibilidade do Norte, onde funciona o Lusocord. O objectivo é facilitar as recolhas em todo o país, que até aqui estavam sujeitas a uma solicitação prévia do kit de recolha pelos pais, uma a duas semanas antes da data programada para o parto.
Os primeiros hospitais a aderirem ao serviço deverão começar a fazer as recolhas de forma automática a partir de Abril, mas sempre mediante autorização dos pais, avançou ao i Helena Alves. "É um processo que vai ser natural ao longo do ano", garante a responsável, salvaguardando contudo que os pais poderão continuar a fazer o pedido prévio do kit. Apesar de a medida não partir da Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação (ASST), do Ministério da Saúde, é a esta que cabe o licenciamento das unidades para as recolhas. Os hospitais que querem começar pela primeira vez a fazer a recolha de sangue devem solicitar autorização à ASST, e os que já têm este serviço - com os kits fornecidos pelo Lusocord ou pelas empresas privadas de criopreservação - deverão renovar o pedido até 10 de Maio, avança a autoridade.
Para Helena Alves, apesar de a existência de kits nos hospitais não ser uma medida obrigatória, espera-se que venha a abranger todo o país. "É natural que os hospitais públicos, privados e clínicas venham a querer que os seus utentes disponham desta opção", sublinha.
O banco público de células estaminais do cordão funciona desde Julho do ano passado nas instalações do Centro de Histocompatibilidade do Norte, com uma capacidade de armazenamento para oito mil doações. Desde então já recebeu mais de 1600. O processo de recolha e armazenamento ronda os 100 euros, mas é disponibilizado de forma gratuita, explica ao i Helena Alves. Tem como destino a "realização de um transplante de qualquer doente do mundo que precise, sem outra preferência que a da compatibilidade mais idónea". Define-se como uma dádiva "altruísta e anónima". Já no privado, o armazenamento das células estaminais do cordão umbilical prolonga-se por 20 anos, com um custo acima dos mil euros, ficando reservadas para a família.
Por desenvolverem glóbulos brancos e vermelhos, as células do sangue do cordão são utilizadas no tratamento de doenças do foro sanguíneo, como a leucemia. No futuro espera-se alargar as recolhas no banco público ao tecido do cordão, que contém um tipo de células estaminais diferentes das do sangue, que se acredita terem potencial para regenerar cartilagem e outros tecidos, como o muscular e o cardíaco.