sábado, 15 de janeiro de 2011

Depois da Bolsa do Voluntariado, Portugal cria rede social para voluntários - Volunteerbook

Texto publicado na edição do Expresso de 8 de janeiro de 2011

"Mas já foi à Bolsa procurar?" A frase é repetida múltiplas vezes, todos os dias, por Isabel Jonet às instituições particulares de solidariedade social (IPSS) que lhe ligam a carpir problemas, a pedir ajudas. O rosto do Banco Alimentar Contra a Fome preside também à Bolsa do Voluntariado, onde em quatro anos conseguiu reunir 16.767 pessoas disponíveis para doar o tempo e aptidões a 963 organizações. "Se precisam de quem ajude as crianças do ATL a fazer os trabalhos de casa, há lá. Ou quem conduza as carrinhas, encontram lá. Ou até quem lhes faça a contabilidade ou projetos de arquitetura".

Em www.bolsadovoluntariado.pt os números de necessidades e vontades de ajudar duplicaram em dois anos. Mas, em 2011, Ano Europeu do Voluntariado, Isabel Jonet quer dinamizar ainda mais o projeto. "A 1 de fevereiro lançamos o Volunteerbook. Já registei o nome e tudo. É uma rede social do voluntariado, que parte da base de dados da Bolsa e corre no Facebook", explica, com visível entusiasmo.

A plataforma vai permitir engordar a Bolsa com os projetos do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado, Instituto Português da Juventude e Federação Nacional das Associações Juvenis (três parceiros da rede) e, potencialmente, com todos os membros do Facebook. Quase automaticamente haverá uma ligação às bolsas de voluntariado internacionais.

"Não tolero o desperdício de pessoas. Há cada vez mais pessoas válidas que se reformam prematuramente, e desempregados. É preciso aproveitá-los". diz Isabel Jonet. "E o que há mais é jovens com tempo de sobra, que deviam ser levados pelas escolas para a intervenção cívica. Como não são, vamos buscá-los onde estão. O mundo mudou. E estas criaturas, que são os nossos filhos, vivem nas redes sociais".

Potencial estatístico


No Volunteerbook, cada potencial voluntário inscreve-se e detalha onde e em que áreas pretende ajudar. As organizações, por seu lado, publicitam as suas oportunidades de voluntariado, têm os interessados a concorrer diretamente e selecionam o que mais lhes convém. A Entrajuda, entidade que coordena a Bolsa, só medeia o 'negócio', certificando que nenhuma instituição age de forma menos 'solidária'.

Graças à georreferenciação da oferta e procura, é fácil conciliar a localização dos voluntários com as instituições que precisam de apoio. Cada 'amigo' pode depois convidar mais amigos, partilhar ligações e até usar 'facebookcredits' - o dinheiro virtual existente, por exemplo, no jogo "Farmville" - para ajudar financeiramente as IPSS.

"O projeto tem também um potencial estatístico muito interessante. E, por isso, convidámos o INE - que aceitou - a integrar a plataforma e a partir daqui estudar o voluntariado em Portugal", revela Isabel Jonet.

Pedro Ferraz, gestor de projetos na área da informática, atualmente no desemprego, é o responsável pela rede social voluntária. Enquanto vai a entrevistas de emprego desenvolve o Volunteerbook. "Queremos também trazer as empresas para a plataforma. Vai ser possível publicitarem as suas práticas de responsabilidade social e promoverem o voluntariado junto dos colaboradores". explica.

Atualmente, a Bolsa de Voluntariado é maioritariamente composta por jovens adultos, com elevadas qualificações.

Quanto a áreas de especialidade, lideram os professores (mais de mil), e abundam psicólogos, engenheiros, gestores, informáticos, economistas e enfermeiros. As mulheres dominam.

Quando um incêndio ajuda quem tem fome


Foi no dia 12 de dezembro, perto das 13 horas, que um incêndio deflagrou no supermercado Pingo Doce da Damaia. Os bombeiros da Amadora, Queluz e Estoril demoraram duas horas a controlar as chamas que destruíram o armazém e cobriram de fuligem o resto do edifício. O seguro deu tudo como perdido.

"Mas não para nós", explica Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar e da Entrajuda, instituição que coordena o Banco de Bens Doados e o Banco de Equipamentos. "Recebemos muitos e ótimos produtos recuperados, praticamente todo o recheio da loja. Tinham vestígios de fumo, mas como o fogo foi no armazém e eram produtos da loja foi só limpar". A comida seguiu para o Banco Alimentar. Fraldas, produtos de higiene e detergentes foram para o Banco dos Bens Doados. Os eletrodomésticos para o Banco de Equipamentos.