domingo, 7 de agosto de 2011

Alimentos de Verão

Existem alimentos do Verão e alimentos próprios para o Verão. Curiosamente não são muito diferentes, o que é uma sorte nutricional, uma bênção para os sentidos e uma virtude da natureza.

Durante o período de Verão, a natureza coloca à nossa disposição uma enorme variedade de frutos e hortícolas. Nos frutos poderemos citar, entre outros, a ameixa, o morango, a amora, a cereja, a framboesa, a pêra, o pêssego, o limão, o maracujá, o melão, o kiwi, a melancia e a uva. Nos hortícolas encontramos com facilidade nesta altura do ano, o alho francês, a beringela, a courgette, a couve roxa, os brócolos, o aipo, o alho, o pimento, o tomate e a cenoura. Estes são os alimentos do Verão, os que naturalmente se desenvolvem nesta época do ano em Portugal.

É uma bênção da natureza possuirmos esta variedade de recursos genéticos agrícolas bem adaptados às condições climatéricas locais. Ao mesmo tempo, é uma sorte nutricional pois estes alimentos são relativamente “pobres” em energia e riquíssimos em centenas de substâncias protectoras da nossa saúde, muitas delas ainda desconhecidas. Entre estas poderemos citar as vitaminas C e a E, os carotenóides presentes na cenoura e no tomate, os monoterpenos presentes nos citrinos ou os compostos sulfurados como os glucosinolatos, índoles, e a alicina presentes nas couves, no alho e na cebola ou ainda, os compostos fenólicos, presentes nos frutos vermelhos e na cebola vermelha. Nomes complexos e ainda pouco conhecidos do grande público mas com características anti-oxidantes, capazes de proteger as células de agressões externas, mantendo-as saudáveis. Outro dado curioso sobre estas substâncias é que parecem ser mais eficazes quando estão agrupadas nos frutos e hortícolas e, aparentemente nas proporções escolhidas pela natureza, do que quando estão sozinhas e fabricadas pelo homem.

Mas a natureza não pára de nos surpreender. Hoje sabemos que a presença destas substâncias protectoras é condicionada por factores como a luz solar a que estes alimentos estão expostos. Por exemplo, os brócolos produzem mais anti-oxidantes quando estão mais expostos à radiação solar durante o crescimento. Ou ainda que a combinação de radiação solar, chuva, humidade e tipo de solo pode originar anos excepcionais de colheita de anti-oxidantes (tal como nos vinhos) como comprovam os estudos da investigadora Ana Sofia Rodrigues em cebolas regionais da Póvoa do Varzim.

Os alimentos do Verão são de facto um mundo imenso por descobrir. A maioria destes frutos e hortícolas possuem quantidades apreciáveis de água contribuindo para uma hidratação óptima nos dias mais quentes. Possuem também quantidades apreciáveis de substâncias indigeríveis que chegam ao intestino grosso, sendo neste local parcialmente ou totalmente fermentadas pelas bactérias intestinais com efeitos benéficos para a saúde. O efeito combinado da fermentação com subprodutos formados fornece energia para as células e bactérias do intestino, contribuindo para a regulação do trânsito intestinal e para a redução do risco de cancro do cólon. A fibra solúvel presente nestes alimentos pode ainda retardar a absorção dos hidratos de carbono, reduzindo o aumento da glicose sanguínea, que ocorre após a refeição. Mais saciedade por mais tempo e com menos calorias.

Os alimentos próprios para o Verão deveriam ser aqueles capazes de nos hidratar nos dias mais quentes, com baixo teor energético, amigos da nossa saúde, saborosos, fáceis de ter à mão e capazes de reduzir a sensação de fome nos dias que queremos mais esticados. E não é que a natureza nos concede este privilégio?



Pedro Graça, Nutricionista
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto/Direcção-Geral da Saúde