sábado, 6 de agosto de 2011

Ponte 25 de Abril - Quarenta e cinco anos entre margens assinalam-se este sábado

A 6 de Agosto de 1966 o Diário de Lisboa escreveu que "quando o sol começou", nessa manhã, "a iluminar o estuário" do Tejo, "já filas ininterruptas de veículos procuravam fazer a travessia" da ponte, hoje denominada 25 de Abril.
 
por Lusa, 2011-08-04


O diário -- "visado pela censura" -- descreve com muito detalhe "o dia em que Lisboa se levantou mais cedo" para ver inaugurar "a ponte", como havia de ser dita pelas bocas do povo. A "abertura simbólica" aconteceu "eram 12:44 precisas", há 45 anos. No jornal dá-se conta das excursões, dos turistas e até da simpatia "dos fabricantes de plásticos", que criaram "um prato raso com uma montagem fotográfica de Alcântara, sem esquecer a estrutura metálica inaugurada". Incluídos estão também o relato das buzinas dos carros e autocarros em longas filas à espera de atravessar para Sul e relatos do "alvoroço entre os apreciadores de televisão", que, não podendo assistir a olho vivo, encheram "os cafés de bairro".

A "Ponte Salazar" era, à época, a maior construção do género na Europa e uma das maiores do mundo. Custou mais de 2,1 milhões de contos, precisou de mais de 72 mil toneladas de betão, e chegou a ter, num só dia, as mãos de três mil homens a trabalhar para erguê-la. O Diário de Lisboa relata ainda a longa pompa e circunstância da cerimónia organizada pelo regime fascista de António Oliveira Salazar, que ordenou a construção da infraestrutura e fez dela sua homónima. Depois da revolução de 25 de Abril de 1974, que depôs a ditadura, a ponte mudou de nome. Os primeiros utentes pagaram 20 escudos (10 cêntimos) para passar a ponte. Hoje, 45 anos depois, o bilhete da portagem custa quase 15 vezes mais.

De acordo com dados da Lusoponte, concessionária da primeira travessia sobre o Tejo desde 1996, o preço da portagem paga por um veículo ligeiro desde essa altura até hoje quase duplicou. Entre os momentos que marcaram a história da ponte, que se cruza com a história da contestação às portagens, destacam-se os protestos do dia 24 de Junho de 1994, durante o Governo de Cavaco Silva.

Dezenas de camionistas bloquearam a travessia em protesto contra o aumento de 50 por cento nas portagens, que iria custear a construção da Ponte Vasco da Gama. Depois de largas horas de bloqueio por parte dos manifestantes, a polícia avançou sobre eles. Houve confrontos, diversas detenções, mais de uma dezena de feridos e um jovem ficou paraplégico depois de ter sido atingido por um tiro.

O 'buzinão' foi sempre um clássico da contestação às portagens na ponte, mas nunca como nesse ano. Desde 1966 o número de veículos a passar a ponte não parou de aumentar. Hoje a 25 de Abril recebe mais de 150 mil veículos por dia e cerca de 56 mil composições ferroviárias por ano. Tem uma média de 300 mil utilizadores diários.